O que se esconde por detrás de todos os
argumentos dos corifeus da direita, é o grande objetivo do imperialismo e do
capitalismo financeiro internacional, em pretender formatar as sociedades, a
nível global, pela grelha neoliberal e conservadora, remetendo o Estado para a
mera gestão das funções de soberania e entregando à iniciativa privada a gestão
de todas as atividades económicas, sociais e culturais, que assim ficariam
sujeitas à sagrada lei da oferta e da procura e ao princípio do
utilizador/pagador. Em vez de sociedades minimamente solidárias, criar-se-iam
sociedades ferozmente competitivas, onde prevaleceria a lei do mais forte. Cada
cidadão ficaria entregue ao seu mérito e à sua sorte. Se nascesse incapaz, a
culpa seria dos pais, que deveriam ter feito um teste genético (pago do seu
bolso, naturalmente) antes de pensarem ter um filho. Se o cidadão contraísse
uma cirrose, porque era alcoólico, ou contraísse um cancro no pulmão, porque
era fumador, não teriam de ser os outros cidadãos a pagar os respetivos
tratamentos. Mas, se aquele cidadão contraísse o cancro pulmonar, devido aos
gases tóxicos emitidos pelas chaminés de uma fábrica de produtos químicos,
ninguém iria lembrar-se de exigir uma indemnização aos proprietários daquela
fábrica, assim como ninguém iria lembrar-se de exigir responsabilidades pela
existência de uma criança anormal, ao fabricante daquele preservativo que se
rompera durante uma relação sexual do casal progenitor, que, anteriormente,
tinha sido aconselhado a não procriar, depois de se ter submetido a um
exame genético.
Por mero interesse do lucro dos grandes grupos
económicos e financeiros, os doutrinários fundamentalistas do neoliberalismo
pretendem diluir a responsabilidade coletiva de uma sociedade e aprofundar até
ao limite a responsabilidade individual de cada cidadão.
Apliquemos esta visão
corrosiva e distorcida a uma equipa de futebol, com os avançados da equipa
derrotada a reclamarem o prémio do jogo, porque, tendo marcado dois golos,
consideraram que a culpa da derrota teria sido dos defesas e do guarda-redes,
que permitiram a concretização de três golos pela equipa adversária.
Os ardilosos argumentos da "fat tax",
que pretendem incutir um falso princípio de uma nova justiça social, baseado no
paradigma fundamentalista de que, em todos os domínios estruturantes da esfera
social, cada um tem o que merece e que cada um tem de pagar o que usa e possui,
não resistem ao confronto com os princípios humanistas que as sociedades
desenvolveram ao longo da História, embora, como se sabe, as classes
possidentes sempre os tivessem tentado torpedear. E faço a simples pergunta:
Como é que uma sociedade organizada no modelo neoliberal resolvia o problema de
uma criança talentosa, que, revelando elevado mérito nos primeiros anos de
escolaridade, não poderia, entretanto, prosseguir os estudos por insuficiência
de meios financeiros de seus pais? O Estado dava a essa criança um
cheque-ensino, diria o inefável Paulo Portas, julgando ele que estava a salvar
a honra do convento. E eu responderia: mas, por que carga de água, vivendo eu
numa sociedade do Estado mínimo e do lucro máximo, tenho de pagar dos meus
impostos a formação daquela criança talentosa? Por uns instantes, Paulo Portas
julgaria ter demonstrado a superioridade moral do Estado neoliberal, de
natureza individualista, sobre o Estado Social, de natureza coletivista, que eu
defendo, por considerar ser mais equitativo e mais justo, ao disponibilizar
serviços de âmbito social (Educação, Saúde e Segurança Social) a todos os
cidadãos, em plena igualdade de condições. E aqui, já não discuto a justeza do
pagamento dos meus impostos, para esse fim...
Alexandre de Castro
publicado no Notícias de Ourém de 24 de Julho de 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário